Religiosidade e espiritualidade em pessoas vivendo com HIV/Aids: associação com percepção de doença, estratégias de coping e adesão à medicação

Abstract

A influência da religiosidade/espiritualidade de pessoas vivendo com HIV/Aids sobre suas crenças de ameaça à saúde, modos de coping e adesão à terapia antirretroviral ainda é pouco conhecida e necessita, portanto, de maior investigação. Desse modo, o objetivo geral dessa pesquisa, de delineamento do tipo transversal e correlacional, foi analisar as associações entre as vivências e práticas religiosas/espirituais e as estratégias de coping religioso/espiritual de indivíduos soropositivos, bem como entre estas e medidas de percepção de doença, de adesão à medicação antirretroviral e de estado emocional. Participaram do estudo 101 usuários com diagnóstico de HIV/Aids que estavam sendo acompanhados em serviço de atendimento ambulatorial de um hospital universitário. Os participantes responderam aos seguintes instrumentos: Questionário Sociodemográfico e Médico-Clínico, Escala do Índice de Religiosidade de Duke (DUREL), Questionário para Avaliação da Adesão ao Tratamento Antirretroviral (CEAT-HIV), Questionário de Percepção de Doenças Versão Breve (Brief IPQ), Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) e Escala de Coping Religioso Espiritual Abreviada (CRE-Breve). Para avaliar a relação entre as variáveis em estudo, foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences versão 24, com emprego dos testes exato de Fisher e de Qui-Quadrado. As análises de correlação mostraram que as dimensões de religiosidade se associaram significativa e positivamente às estratégias de coping religioso espiritual positivo (p <0,01). Observou-se ainda uma associação positiva entre os níveis de ansiedade e depressão e o uso de estratégias de coping religioso espiritual negativo (p <0.01), incluindo delegação da resolução de problemas à Deus. A adesão à terapia antirretroviral mostrou-se associada negativamente à percepção de doença e ao estado emocional (p <0,01). Por outro lado, foram encontradas associações, mas não significativas, do coping religioso espiritual com adesão ao tratamento e com percepção de doença. Os resultados ressaltaram o papel importante de fatores religiosos/espirituais frente a adversidades relacionadas à vivência de HIV/Aids e evidenciaram a influência destes fatores no estado de humor dos participantes, bem como indicaram que uma maior adesão ao esquema medicamentoso está associada a menor percepção de ameaça à saúde e a menor frequência de sintomas ansiosos. Ressalta-se a necessidade de mais pesquisas que possam embasar o planejamento de intervenções para melhoria da qualidade de vida de pessoas que apresentam essa condição crônica.