Práticas psicoeducativas na atenção primária: contribuições do psicólogo para a educação em saúde

Abstract

Na presente pesquisa, investigou-se, em moldes descritivos, o emprego da abordagem psicoeducativa na atenção primária à saúde, conforme exercida por psicólogos. O objetivo foi identificar contextos e modos de utilização de intervenções psicoeducativas no cotidiano de psicólogos atuantes em serviços públicos de saúde com vistas a estimular ações de prevenção ou tratamento de agravos à saúde. Buscou-se, ainda, verificar as percepções destes profissionais acerca das possibilidades e relevância da psicoeducação enquanto plano de ação no nível primário da atenção e sobre a própria capacitação para trabalhos desta natureza, considerando suas experiências e aprendizagens desde a graduação. Na coleta de dados, foi utilizado um questionário autoadministrado para obtenção de respostas de psicólogos que atuavam na Atenção Básica de distintos municípios da região sul-fluminense, o qual é composto por duas partes: a primeira com questões sobre a formação e atuação profissional e a segunda com questões de múltipla escolha relacionadas ao uso da psicoeducação, incluindo, por exemplo, frequência, finalidades, população-alvo, estratégias e recursos empregados. Ao todo, 21 profissionais responderam ao instrumento de modo impresso ou em formato eletrônico. De modo adicional, sete destes respondentes participaram individualmente de entrevista semiestruturada, mediante roteiro prévio, com vistas a análises qualitativas e aprofundamento da compreensão de suas percepções. O roteiro foi estruturado nos seguintes eixos temáticos: conhecimentos e usos da psicoeducação na prática profissional e capacitação para uso da psicoeducação. Os dados do questionário foram submetidos a análise estatística descritiva, enquanto aqueles provenientes das entrevistas foram categorizados segundo a análise de conteúdo de Bardin. Como resultados, em relação à utilização da psicoeducação, verificou-se o emprego desta estratégia, de modo individual e grupal, em diferentes cenários e com variados segmentos da população. As psicólogas destacaram a importância da prática educativa enquanto ação preventiva e de promoção do autocuidado. As barreiras principais apontadas nesse processo foram a falta ou insuficiência de recursos materiais e a falta de adesão de muitos usuários às atividades psicoeducativas propostas. Por outro lado, foram relatadas potencialidades do uso da psicoeducação, tal como maior autocuidado entre os usuários beneficiários dos serviços de saúde. Quanto à própria capacitação profissional para tal, as participantes se sentiam pouco capacitadas, relatando dificuldade moderada para o uso de ações psicoeducativas, requerendo cursos de atualização da prática e o acompanhamento das equipes de saúde de maneira longitudinal. O estudo possibilitou ampliar os conhecimentos sobre as práticas de psicoeducação nos cuidados primários e seus benefícios estimados, oferecendo um panorama do seu uso e de aspectos importantes para o seu fortalecimento enquanto técnica com potencial para estimular a aquisição de condutas preventivas.