Relações epistemológicas e metodológicas na abordagem do tema saúde no ensino médio

Abstract

Este trabalho teve como objetivo analisar a abordagem metodológica do tema saúde que os professores encaminham em aulas de Biologia a fim de estabelecer relações com uma perspectiva epistemológica de ciência e de ensinar ciências. Para isso foi utilizado uma perspectiva teórica que articulada à dimensão empírica permite fazer apontamentos sobre a formação dos professores e a relação entre epistemologia e metodologias. Este trabalho contou com referenciais teóricos sobre formação docente que incluem Tardif (2010), Schön (2000), Pimenta (2000), entre outros. E para a contribuição da discussão epistemológica, Maturana (2001), Moraes (2011), Ramos (2011), Harres (2011), Feyerabend (1985,1991), Cachapuz et al (2005), entre outros. Destaca-se, ainda, nessa discussão o conceito de alfabetização científica, baseada em Chassot (2006, 2007), incorporando a questão social. A metodologia, de natureza qualitativa, foi realizada através de entrevistas semiestruturadas com 5 professores que atuam no Ensino Médio com a disciplina de Biologia. As entrevistas foram audiogravadas para transcrição posterior dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa. As análises se organizaram em torno dos seguintes eixos: concepções de ciência; concepções de ensinar ciências dos professores bem como a abordagem do tema saúde nas aulas de Biologia. Estas análises evidenciaram que a maioria dos professores valeu-se de sua referência de ensino de ciências para definir ciência como linguagem do mundo, como uma visão generalista e, como construção humana. Sobre as concepções de ensinar ciências, apesar de dois professores se assumirem como tradicionais os demais indicaram elementos de uma visão de ensino que se situa em uma perspectiva que se aproxima da construtivista. Na abordagem em saúde também a maioria dos professores faz uso de situações concretas e locais para contextualizar as aulas o que indica a promoção de uma Educação em saúde com vistas a uma formação mais crítica. A partir da análise dessas concepções dos professores e, orientada pelo referencial teórico, elaboramos um recurso didático na forma de jogo, “Jogando com os microrganismos”, que propõe uma abordagem da questão da saúde de forma mais articulada. A aplicação desse jogo a um grupo de alunos do 3o ano do Ensino Médio possibilitou uma análise de suas potencialidades relativas à mobilização de conceitos de biologia, a explicitação de conhecimentos prévios e articulação com os conhecimentos científicos de outros temas como evolução e ambiente fazendo revelar um movimento de reconstrução de conhecimentos pelos alunos evidenciados pelos questionamentos por eles propostos ao longo da atividade. Além disso, o jogo permitiu a abordagem da questão da saúde inserida em um contexto social que abrange desde os aspectos de saúde pública até aqueles, pertinentes a própria ciência, pois a escola articula saberes dentro de um contexto social e cultural. Este estudo possibilitou a problematização das formações inicial e continuada dos professores de ciências que de modo geral encontram-se esvaziadas de uma formação epistemológica que garanta escolhas seguras sobre metodologias de ensino a serem utilizadas em salas de aula. De qualquer forma, de maneira mais ou menos consciente há sempre uma relação entre epistemologia e metodologia. Além disso, evidenciamos a importância da temática saúde em uma perspectiva mais abrangente e articulada superando visões prescritas que possibilitem a formação dos alunos sobre a Educação em Saúde objetivando uma alfabetização científica e, portanto, como prática social.