Detecção de A. platys em cães trombocitopênicos de duas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro

Abstract

Anaplasma platys é uma bactéria gram-negativa, intracelular obrigatória, com tropismo para as plaquetas e agente etiológico da Trombocitopenia Cíclica Infecciosa Canina (TCIC), enfermidade distribuída mundialmente, transmitida pelo carrapato ixodídeo Rhipicephalus sanguineus sensu lato e comumente associada, como o nome indica, à trombocitopenia em cães. É predominante em regiões de clima subtropical e tropical, incluindo o Brasil, onde ocorre com prevalências que variam de 2 a 55%, com relatos em todas as regiões do país. É sabidamente um agente zoonótico e seu vetor já foi descrito parasitando seres humanos no Brasil. Apesar de sua importância, vários aspectos da infecção ainda são desconhecidos em muitos locais do país. Desta forma, este estudo objetivou determinar a prevalência, por métodos hematológicos e moleculares, analisar os aspectos epidemiológicos, e avaliar a diversidade genética de A. platys, utilizando o gene gltA, em amostras de sangue total de cães trombocitopênicos naturalmente infectados de duas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro. Foram utilizadas amostras de sangue total de cães trombocitopênicos, independente do sexo, raça e idade, das mesorregiões Metropolitana e do Sul Fluminense, para a avaliação hematológica, pesquisa de hemoparasitos e investigação molecular quanto à presença de A. platys, Ehrlichia sp e Babesia sp, excluindo-se do estudo as amostras positivas para os dois últimos. Os resultados hematológicos dos animais positivos e negativos para A. platys foram comparados, e a correlação das variáveis sexo, raça e idade dos cães com a positividade para A. platys foi verificada, bem como o grau de concordância entre os diagnósticos molecular e parasitológico para A. platys. As amostras positivas para A. platys foram sequenciadas e submetidas a análise filogenética. Ao todo, 404 amostras foram processadas, sendo 274 da mesorregião Metropolitana e 130 da mesorregião do Sul Fluminense. Destas, 4,7% (19/404) amplificaram para o gene gltA de A. platys, e coinfecção foi detectada em 4 amostras. Anemia, hipocromia, hipoproteinemia e a variável sexo (cães machos) foram associadas à infecção, enquanto não houve diferença significativa quanto aos níveis de trombocitopenia entre animais positivos e negativos. Demonstrou-se uma concordância fraca entre os diagnósticos molecular e parasitológico. Dentre as amostras positivas, quinze foram submetidas ao sequenciamento e análise filogenética, e as sequências obtidas mostraram identidade entre 99-100% com isolados de A. platys de vários continentes e se organizaram em um mesmo clado. Com base nos resultados, conclui-se que há apenas um genótipo de A. platys infectando cães nas áreas de estudo, e que anemia é o único achado associado à infecção, não podendo-se considerar a presença de trombocitopenia, tampouco sua severidade, como critérios diagnósticos.