Enredos do cotidiano: relações de trabalho e sociabilidades de mulheres de cor com o ofício de quitandeiras na cidade do Rio de Janeiro, de 1870 a 1888

Abstract

A presente dissertação tem o objetivo de compreender experiências de mulheres trabalhadoras de cor com o ofício de quitandeiras: suas relações e arranjos de trabalho, e suas lutas por espaços e permanências, nas freguesias que hoje configuram o centro da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno, no período de 1870 a 1888. Para desvendar aspectos do cotidiano dessas pessoas, fizemos uso de jornais diários de ampla circulação na cidade, sobretudo as seções de Anúncios, dicionários do século XIX, o Almanak Laemmert, recenseamentos, fotografias, relatos de viajantes, mapas e plantas da cidade. No diálogo com as fontes e a historiografia, foi possível perceber algumas configurações da oferta e demanda pelos seus serviços, discutir relações de gênero, e a diversidade de arranjos existentes para esse trabalho – e sugerimos que essas mulheres tiveram um papel importante na reinvenção deles. Além disso, percebemos que existiu uma demanda crescente pelos serviços de quitandar, e o aluguel poderia estar sendo o arranjo mais comum para o emprego de quitandeiras pela cidade. Reforçamos a atuação de quitandeiras na “cidade negra” ao investigar a construção de coletividades e a importância do ofício para suas sociabilidades, e ao tecer interpretações potenciais para as chamadas “casas de quitandeiras” e para lutas e disputas que as trabalhadoras atravessaram. Com essas discussões, buscamos inserir as mulheres escravizadas e livres com esta ocupação específica nos debates da reorganização do trabalho no contexto do final da instituição da escravidão.