O “armazém do campo” e a feira Cícero Guedes: relações entre o rural e o urbano nas ações políticas do MST no Rio de Janeiro

Abstract

O espaço rural brasileiro amplamente conhecido pelo seu caráter desigual no que se refere à distribuição das terras, vem ao longo dos anos fomentando conflitos que geram um quadro marcante de violência que se materializa em assassinatos, expropriações de trabalhadores, além do estímulo de um modelo de produção agroexportador que para manter os elevados níveis de produtividades dilapida os recursos naturais em uma velocidade cada vez mais rápida e assustadora. Para além disso, a produção agrícola brasileira é uma das que mais emprega o uso de insumos químicos. Tentando romper com essa lógica do modelo capitalista agroexportador, o MST vem ao longo dos últimos anos propondo um novo sistema de produção agrícola baseado na sustentabilidade social, natural e econômica. Portanto, o Movimento discute um novo modelo de produção que seria capaz de reorganizar as bases da sociedade capitalista que se encontra assentada na extrema desigualdade social. Todavia fica o questionamento se seria possível não ser tão desigual? Somos partes de um todo, porém, respeitando as particularidades dos espaços rural e urbano. Dessa forma, é de suma importância que os trabalhadores do campo e da cidade se unam em torno de um novo projeto de sociedade baseado na cooperação, solidariedade, fraternidade, democracia plena etc. Sendo assim, o MST assevera que esses valores são inalienáveis e imperiosos no processo de reordenamento social. Para que se alcance esse objetivo, o MST vem desenvolvendo ao longo desses últimos anos formas cada mais interessantes de dar visibilidade às questões agrárias. A Reforma Agrária Popular e Agroecológica é o fulcral objetivo do Movimento. Sendo assim, o MST entende que a partir do reordenamento do espaço agrário brasileiro, a sociedade terá condições de alterar as bases na qual está alicerçada. Para isso, o objetivo principal dessa pesquisa alicerçou-se sobre as formas que o MST utiliza para objetivar as questões agrárias e, principalmente, a Reforma Agrária. Não demorou muito para que nós chegássemos às estratégias dos Armazéns do Campo e Feiras da Reforma Agrárias que são espaços de comercialização e aproximação com a população urbana de várias cidades brasileiras. Adotamos a abordagem qualitativa a partir do estudo de caso sobre o Armazém Rio e a Feira Cícero Guedes para esclarecer as indagações por nós suscitada. Desse modo, aferimos que o MST planeja a transformação da sociedade utilizando as regras do capital, porém de forma diferente. Ou seja, empregando um modelo a partir da cooperação que, na concepção do Movimento, seria mais justo na distribuição das sobras. É uma estratégia ousada e que requer uma luta constante em defesa da imagem e dos princípios do Movimento que se vai de encontro com os do capitalismo. Por fim, esperamos que esse trabalho tenha a capacidade de contribuir com a luta do Movimento em busca de uma sociedade melhor.