Suportes do medo, fronteiras da (des)ordem: deslocamento de cangaceiros nos limites do território cearense e o discurso do medo na imprensa (1912-1928)

Abstract

Esta pesquisa apresenta discussões sobre o deslocamento de cangaceiros nas fronteiras do Ceará e a construção discursiva do medo elaboradas pela imprensa local e de Estados vizinhos entre os anos 1912 e 1928. Ao estudar os discursos sobre esses sujeitos, nos deparamos com

descrições que destacam a sua audácia, a violência e a crueldade. Muitos trabalhos dedicaram- se a comentar as suas ações, mas o espaço onde elas aconteceram não receberam a devida

atenção e em alguns casos, foram naturalizados e apreendidos como algo dado. Nossa proposta é desnaturalizá-los encarando-os como espaços de poder, como construtores de discursos e identidades. Atentamos para as particularidades, os usos dos espaços limítrofes e as estratégias adotadas na repressão ao banditismo descritas nos jornais. Os discursos presentes nos impressos apontavam para terror contínuo que ameaçava as propriedades e as vidas, fomentados a partir movimentação pelos espaços de fronteiras. Desse modo, este trabalho buscou compreender os discursos de medo disseminados pela imprensa e discutir como o medo foi mobilizado para atender a interesses e usos do espaço, (re)construindo discursivamente práticas e sujeitos. Para esta pesquisa, selecionamos jornais do Ceará e de estados vizinhos, bem como as mensagens dos presidentes de Estados à Assembleia entre os anos 1910 a 1920. O que nos permitiu mapear a urgência que o tema ganhou na década de 1920 e analisar os diversos discursos que apontavam para uma ameaça de invasão e destruição nas cidades, pensando assim, em uma espacialização do medo a partir do deslocamento de cangaceiros pelas fronteiras e as múltiplas possibilidades que elas ofereciam.