O direito ao lazer - O uso do mapa e a sociabilidade de homens gays no bairro de Madureira, RJ.

Abstract

Esta pesquisa buscou compreender como homens gays vivenciam o lazer no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, articulando os conceitos de territorialidade, direito à cidade e cognição cartográfica. A pergunta central foi: de que forma o lazer é acessado, apropriado e reinventado por essa população em um território marcado tanto pela efervescência cultural quanto por fortes traços de conservadorismo? Embora o lazer esteja vinculado ao bem-estar, seu acesso ainda é desigual. Homens gays enfrentam barreiras como a discriminação, exclusões simbólicas e riscos à integridade física, que limitam o uso livre e seguro de espaços públicos. Em Madureira — bairro conhecido pelo samba e a resistência cultural — essas tensões se apresentam de forma particular, revelando tanto restrições quanto possibilidades. A metodologia adotada foi qualitativa, com observação participante, entrevistas e, principalmente, a construção de mapas mentais. Esses mapas não apenas localizaram espaços de lazer, mas revelaram afetos, memórias e estratégias de circulação e resistência. Eles funcionaram como registros sensíveis da relação entre corpo, território e identidade. O referencial teórico incluiu autores como Lefebvre, Santos, Souza, Saquet e Bonnemaison para discutir produção do espaço e territorialidade; Peret, Aguião e Freitas para abordar espacialidades LGBTQIAPN+; e Dumazedier e Marcellino para tratar o lazer como expressão de cidadania. A cartografia afetiva foi fundamentada em Castellar, Fiori, Targino e Santaella, que defendem os mapas mentais como ferramentas críticas e subjetivas. Os resultados mostram que, apesar dos desafios, homens gays constroem formas criativas e resistentes de viver o lazer. A pesquisa também aponta perdas significativas, como o fechamento da boate Papa G, um importante ponto de encontro LGBTQIAPN+. Mais do que uma casa noturna, o espaço funcionava como território de memória e resistência, e seu encerramento simboliza o risco de apagamento de espaços historicamente conquistados. Assim, mapear e dar visibilidade a esses territórios ultrapassa os limites acadêmicos — é um gesto político. O lazer, quando acessado com liberdade, torna-se ferramenta de resistência e fortalecimento das identidades. Preservar esses espaços é essencial para uma cidade que respeita a diversidade.