O hipotireoidismo experimental promove leve hiperglicemia, sinais análogos a ansiedade e depressão e alterações elétricas cardíacas in vivo e ex vivo em ratos wistar machos

Abstract

O hipotireoidismo é uma endocrinopatia caracterizada pela deficiência na produção dos hormônios tireoidianos, afetando diversos sistemas fisiológicos. Suas manifestações incluem alterações metabólicas, cognitivas, cardiovasculares e distúrbios do humor, como depressão e ansiedade. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (2022), uma em cada oito

pessoas apresenta algum transtorno mental, sendo que no Brasil, dados da Organização Pan- Americana de Saúde (2017) registraram aproximadamente 11,5 milhões de indivíduos com

depressão e 18,6 milhões com transtornos ansiosos. Considerando que uma parcela significativa desses pacientes apresenta disfunções tireoidianas, torna-se relevante investigar a associação entre hipotireoidismo e alterações comportamentais e fisiológicas. Neste contexto, o presente estudo avaliou os efeitos do hipotireoidismo experimental induzido por tireoidectomia total em ratos Wistar machos, com ênfase em alterações comportamentais, metabólicas e cardiovasculares. Trinta e sete animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: SHAM (falso-operado) e TX (tireoidectomizado). O protocolo experimental teve duração de 32 dias, com aferição semanal da massa corporal. Entre os dias 21 e 30 foram realizados testes comportamentais, nos dias 30 e 31 o registro eletrocardiográfico, e no dia 32 procedeu-se à eutanásia e coleta de sangue para dosagem de glicemia, TSH e T4, além da análise cardíaca pelo método de Langendorff. A eficácia do modelo foi confirmada por redução de 96% nos níveis de T4 e aumento de 545% no TSH no grupo TX. A glicemia apresentou elevação discreta (23%) nesse grupo. Quanto à massa corporal, os animais tireoidectomizados exibiram um platô de crescimento a partir da segunda semana, com diferença de ganho de peso total de aproximadamente 87% em relação ao grupo SHAM. Nos testes comportamentais, o campo aberto não revelou diferenças significativas. No labirinto em cruz elevado, houve redução de 30% no número de entradas e de 49% nos episódios de head dipping, sugerindo comportamento ansioso. No teste de preferência por sacarose, o grupo TX consumiu 16% menos sacarose, indicando anedonia, um comportamento compatível com quadro análogo à depressão. No reconhecimento de objetos, apesar de maior tempo total de interação, o grupo TX apresentou 35% mais interações negativas, indicando prejuízo na motivação exploratória e possível déficit cognitivo. No teste de esquiva passiva, a latência foi 308% maior no grupo TX na fase de curta duração, mas não se manteve após 24 horas, sugerindo déficit na consolidação da memória aversiva. Em relação aos parâmetros cardiovasculares, observou-se redução de 31% na massa cardíaca, bradicardia (queda de 10,4% na frequência cardíaca) e prolongamento dos intervalos QT e QTc, indicando maior risco de arritmias. A razão BF/AF não apresentou alterações significativas. A análise ex vivo confirmou as disfunções eletromecânicas não relacionadas à disautonomia apresentando redução da frequência cardíaca no grupo TX em relaçãoa o grupo controle (11%), além de apresentar aumenta no tempo da sístole basal (36%) e após administração de adrenalina (29%) no grupo TX. Conclui-se que o hipotireoidismo experimental induz alterações comportamentais compatíveis com transtornos ansiosos e depressivos, incluindo anedonia, além de disfunções cardíacas e metabólicas. Esses achados reforçam a relevância do modelo animal para investigações translacionais e abordagens terapêuticas integradas para o hipotireoidismo.