Os sentidos e significados da escolarização de sujeitos com múltiplas deficiências

Abstract

A presente tese tem como objetivo geral analisar o processo de escolarização de educandos com deficiência múltipla e o seu impacto no desenvolvimento desses sujeitos a partir de pesquisa qualitativa com abordagem etnográfica. Nossa investigação foi realizada, acompanhando três alunos com deficiência múltipla em duas escolas públicas do Município de Duque de Caxias, localizado na região da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Os educandos estavam matriculados em diferentes modalidades de escolarização (dois em classe especial e um em ensino comum com o suporte do atendimento educacional especializado - AEE). Na pesquisa de campo, empregamos como procedimentos: observação participante (com registros em diário de campo e realização de filmagem) e entrevistas semiestruturadas com as professoras dos alunos participantes e as equipes gestoras das escolas. Realizamos a análise “escolarização-desenvolvimento” tomando como principal referencial, a perspectiva histórico-cultural pela proficuidade dos conceitos que apresenta sobre as questões relacionadas à aprendizagem e, em especial, quando o desenvolvimento das pessoas ocorre de modo peculiar. Desta vertente, elencamos as postulações de Vigotski sobre os processos de compensação. Também realizamos análise das produções científicas relacionadas à deficiência múltipla no campo educacional. Nossa tese versa que a escolarização deve/tem que contribuir para o desenvolvimento dos sujeitos com deficiência múltipla. Os resultados da investigação apontam para as principais demandas vivenciadas para escolarizar essa população. Dentre as quais, destacamos: a dificuldade do acesso e frequência desses estudantes às escolas prejudicando a efetivação da escolarização; práticas pedagógicas pouco sistematizadas e planejadas, bem como ausência de investimento em estratégias diferenciadas de ensino, tanto no ensino comum, quanto nas classes especiais (uso de tecnologias assistivas e comunicação alternativa, por exemplo); falta de articulação e do trabalho colaborativo entre as docentes do ensino comum (professora regente e professora agente de apoio à inclusão) e a professora da sala de recursos; o não atendimento das especificidades de desenvolvimento dos alunos no processo de escolarização. A pesquisa possibilitou pensar propostas sobre como os suportes e os apoios podem se constituir como instrumentos que “viabilizam” o processo de compensação favorecendo o desenvolvimento dos sujeitos. Também indicou a necessidade de maiores investimentos na produção científica e sua disseminação. Por último, esperamos contribuir para o avanço teórico e a ampliação de investigações sobre o tema, trazendo benefícios para as trajetórias escolares e de vida dos sujeitos que apresentem esse tipo de deficiência.