Efeito do consumo materno de dieta hiperlipídica sobre o remodelamento e metabolismo do ventrículo esquerdo na prole de ratos ao desmame

Abstract

O sobrepeso em mulheres em idade fértil e durante a gestação tem consequências perniciosas na vida fetal e adulta da prole. Isto tem sido demonstrado através de estudos com modelos experimentais de obesidade materna. Dados anteriores do nosso grupo demonstraram que o consumo materno de dieta hiperlipídica (DH) induziu, ao desmame, aumento de massa corporal da prole, adiposidade e hiperleptinemia. A função cardíaca aos 30 dias de vida demonstrou prejuízo na função sistólica (diminuição da fração de ejeção e aumento do volume sistólico final). Estes resultados demonstram que o consumo materno de dieta hiperlipídica promove alterações precoces na função cardíaca de ratos independentemente do sexo do filhote. Este estudo teve como objetivo verificar se o consumo materno de dieta hiperlipídica pode alterar a morfologia e o metabolismo dos cardiomiócitos de animais machos e fêmeas da prole ao desmame. Para isso, ratas Wistar consumiram dieta controle (9% lipídeos, grupo C) ou hiperlipídica (29% lipídeos, grupo DH) durante 7 semanas antes do acasalamento, e durante a gestação e lactação. Ao desmame, 21 dias de vida, as proles foram pesadas e eutanasiadas por punção cardíaca. O coração e os tecidos adiposos branco (retroperitoneal, inguinal e perigonadal) foram pesados. Análises histológicas (cortes corados com HE) e bioquímicas (TLC e HPLC) foram realizadas utilizando amostras do ventrículo esquerdo (VE) e a expressão cardíaca dos receptores Irβ e PI3K foi avaliada através da técnica de Western Blotting (Protocolo IBCCF- 114, UFRJ). A prole DH apresentou maior peso corporal e hipertrofia cardíaca. Dentre os lipídeos neutros mensurados (monoacilglicerol, colesterol, colesterol esterificado, triacilglicerol, ácidos graxos e fosfolipídeos) o colesterol apresentou-se diminuído nos machos (13%) da prole DH, enquanto o colesterol esterificado estava diminuído nos machos (52%) e fêmeas (29%) da prole DH. O conteúdo de triacilglicerol estava aumentado em ambos os sexos da prole DH (52% nos machos e 48% nas fêmeas). A quantificação de ácidos orgânicos (ácido oxaloacético, lático e succínico) não demonstrou nenhuma variação entre as prole C e DH. Não houve alteração na expressão cardíaca dos recptores Irβ e PI3K. Estes resultados sugerem que o consumo materno de dieta hiperlipídica altera a morfologia dos cardiomiócitos do VE e o metabolismo cardíaco de ratos indepentedente do sexo da prole, o que pode explicar a diminuição da função sistólica observada em ratos juvenis.