Diagnóstico sorológico e aspectos epidemiológicos de Theileria equi e Borrelia spp. em equinos de uso militar, no município de Resende, Rio de Janeiro

Abstract

As doenças transmitidas por carrapatos além terem um ampla distribuição mundial, relacionada à dispersão destes vetores, e uma rede epidemiológica complexa, tornando-as de difícil controle e prevenção, causam grandes impactos na saúde humana e animal. O Brasil, com o terceiro maior rebanho de equídeos do mundo, tem como um dos principais agentes transmitidos por carrapatos aos equídeos Theileria equi. Tal agente é considerado endêmico e vem causando entraves à equideocultura nacional. Além disso, alguns aspectos de sua epidemiologia, como o artrópodo vetor da doença no país, ainda não foram elucidados. No que tange às doenças zoonóticas em que os equídeos estão envolvidos, a Síndrome de Baggio-Yoshinari, uma borreliose emergente, tem chamado a atenção, pois têm sido evidenciados equinos soropositivos para Borrelia spp. em nosso país, sugerindo o envolvimento destes animais na epidemiologia desta doença. O objetivo deste estudo foi realizar o diagnóstico sorológico e avaliar os fatores de risco associados à soropositividade para Theileria equi e para Borrelia spp. no rebanho de equinos de uso militar do município de Resende, estado do Rio de Janeiro. Amostras de 174 equinos de uso militar foram testadas através do ensaio de adsorção imunoenzimática indireta iELISA para Theileria equi e Borrelia burgdorferi cepa G39/40. A variável dependente (sororreatividade) foi testada, através de análise bivariada, quanto à associação às variáveis independentes (gênero, idade, definição racial, grupo de manejo, tempo de criação na AMAN, sistema de criação, origem do equino, presença de infestação por Dermacentor nitens, presença de infestação por Amblyomma cajennense, grau de infestação por carrapatos, e presença de infestação por carrapatos). As variáveis que apresentaram associação na análise bivariada (p<0,25), foram incluídas no modelo de regressão logística. Verificou-se que a soroprevalência para Borrelia spp. foi de 29,89%, e a para T. equi de 74,14%. A análise multivariada demonstrou que a presença de infestação de carrapatos está associada (p<0,05) à soropositividade dos equinos para Borrelia spp. (OR 3,45; IC 1,2 - 9,7), e que o tempo de criação na AMAN superior à 15 anos está associado à soropositividade para T.equi (OR 5,70; IC 1,23 - 22,1). A partir dos resultados obtidos pode-se inferir que os carrapatos estão relacionados na transmissão da Borrelia spp. no rebanho estudado, sendo seus prováveis vetores. Além disto, a evidência de circulação de borrélias nos equinos reforça seu papel como sentinelas, alertando para a ocorrência de casos humanos. Com relação à Theileria equi, verificou-se que a área é endêmica para a doença, com alta prevalência de animais portadores assintomáticos, evocando cuidados e medidas preventivas na introdução de equinos, oriundos de áreas de instabilidade enzoótica ou indenes, no rebanho.