Cistoplastia experimental em coelhos (Orictolagus cuniculus) com pericárdio ovino tratado com glutaraldeído a 1% e conservado em glicerina 98%

Abstract

O objetivo deste estudo foi verificar se o pericárdio ovino tratado com glutaraldeído a 1% e conservado em glicerina 98% fornece arcabouço para orientação e desenvolvimento dos tecidos vesicais, mediante processos de reparação, restabelecendo totalmente os tecidos que compõem a bexiga, além de avaliar a biocompatibilidade desta bioprótese, comparando-a com a mesma membrana conservada em glicerina 98%. Foram utilizados 36 coelhos (Oryctolagus cuniculus, Lagomorfa, Mammalia) da raça Nova Zelândia, machos e fêmeas adultos com média de peso entre 2 e 3 quilos, nos quais foram produzidos defeitos cirúrgicos na parede de bexiga de 1,5cm x 1,5cm, substituídos por retalho de pericárdio ovino, de mesma dimensão. Metade dos animais recebeu retalhos de pericárdio ovino conservados em glicerina a 98% a pelo menos 30 dias e a outra metade recebeu retalhos de pericárdio ovino tratados em glutaraldeído por 18 dias, sendo então transferidos para frascos contendo glicerina, onde foram mantidos por um período mínimo de 30 dias. Os animais foram divididos em 6 grupos, cada um constituído por 6 animais que foram abatidos aos 14, 30 e 60 dias após a implantação dos enxertos. Foram realizadas a análise da urina coletada durante o trans-cirúrgico e imediatamente após o abate pelo exame de Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS), avaliações macroscópicas quanto a ocorrência de possíveis complicações da enxertia tais como: seromas, hematomas, fístulas, abscessos, calcificações, aderências, não incorporação do enxerto ou deiscência da sutura, formação de cálculos na luz do órgão e presença de muco. Através de análise histopatológica foram quantificados e qualificados os processos inflamatório e de reparação. O exame de urina revelou presença constante de bactérias, apesar do método asséptico de coleta, além de cristalúria, proteína e sangue oculto, dentre outras alterações. Não foram observadas complicações associadas à enxertia. Cálculos estavam presentes em 35 dos 36 animais. A avaliação microscópica mostrou características do processo inflamatório e de reparação semelhantes nos dois tipos de tratamento das membranas, com evolução favorável em todos os períodos de observação e total incorporação do enxerto aos 60 dias pós-implante. Conclui-se que o pericárdio ovino tratado com solução de glutaraldeído a 1% e conservado em glicerina 98%, assim como aquele somente conservado em glicerina 98%, é capaz de promover a reconstituição da parede vesical apresentando ótimo nível de biocompatibilidade.