Avaliação hematológica e pesquisa de hemoparasitos do gênero Hepatozoon em urubus-preto (Coragyps atratus)

Abstract

Coragyps atratus é uma espécie de abutre do Novo Mundo pertencente à Ordem Cathartiformes, responsável por desempenhar importante papel ecológico como saneadores ambientais, eliminando matérias orgânicas em decomposição. Entretanto, tais hábitos também podem favorecer a atuação destes indivíduos como importantes reservatórios de agentes patogênicos. Portanto, rastrear agentes de importância médico-veterinária, como os hemoparasitos, pode auxiliar no entendimento das interações parasito-hospedeiro e, prevenir a propagação destes patógenos entre espécies suscetíveis. O objetivo do presente estudo foi realizar avaliação hematológica e pesquisa de hemoparasitos do gênero Hepatozoon em Urubus-preto (Coragyps atratus), através de observação direta sob microscopia de luz e biologia molecular com base no gene 18S rRNA em indivíduos amostradas do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), Seropédica-RJ. Vinte urubus-preto originados de resgate foram atendidas no Hospital Veterinário de Pequenos Animais (HVPA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e amostradas neste estudo. Ao término do exame clínico, todas as aves foram submetidas a colheita de sangue, via veia ulnar e, a partir do sangue total, foram realizadas a avaliação hematológica, pesquisa de hematozoários via esfregaço sanguíneo e Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Cinco desses animais apresentaram sinais clínicos inespecíficos (prostração e anorexia), sendo submetidos também a colheita de medula óssea para uma avaliação mais minuciosa. As cinco amostras de medula óssea pareadas ao sangue foram submetidas ao diagnóstico molecular. Na microscopia direta quatro aves (20%) apresentaram inclusões no interior dos leucócitos no sangue total, onde os gametócitos intraleucocitários foram sugestivos do gênero Hepatozoon. No diagnóstico molecular, 11 urubus (55%) foram positivos para Hepatozoon com base no gene 18S rRNA, diante das amostras obtidas do sangue total. Além disso, 3 (3/5; 60%) urubus foram positivos apenas nas amostras obtidas da medula óssea, apresentando ocorrência global de 14 aves positivas (14/20; 70%) mediante aos dois métodos amostrais (coleta sangue total e medula óssea) na PCR. Quanto aos resultados do hemograma, os valores médios observados entre indivíduos positivos e negativos não apresentarem alterações discrepantes. No entanto, quando analisados individualmente algumas alterações foram observadas para o grupo de animais positivos. Pelo menos 2/14 urubus apresentaram hematócrito abaixo do intervalo de referência para espécie (n=2; 14%; urubu 98 e 102). Um apresentou eritrocitose (urubu 100). 5/14 (36%; urubus 95, 100, 102, 109, 110 e 113) manifestaram eosinofilia e 8/14 apresentaram hiperproteinemia. Os demais parâmetros não diferiram da literatura. Os resultados obtidos revelaram a ocorrência de 70% de Hepatozoon sp. em urubus-preto mantidos no CETAS do Rio de Janeiro, alertando sobre o risco de transmissão entre os indivíduos mantidos nestas instituições e a importância de implementação de métodos diagnósticos. Ademais, os resultados oferecem oportunidades para pesquisas futuras, direcionadas as consequências, prevalência e diversidade do gênero Hepatozoon em abutres do novo mundo.