Efeitos do biossólido e hidrogel na restauração florestal por semeadura direta em Seropédica, RJ

Abstract

O Brasil assumiu o compromisso de restaurar 22 milhões de hectares de áreas degradadas, até 2030. Somente no Estado do Rio de Janeiro 2.958.547,85 hectares, o que corresponde a 68% da área do Estado, possuem algum interesse para proteção e recuperação de mananciais de Abastecimento Público (AIPMs), segundo estudos prévios do órgão estadual. Nesse contexto, o desenvolvimento de técnicas eficientes e de baixo custo para a revegetação é essencial. A semeadura direta é uma técnica alternativa que simula o processo natural de regeneração da vegetação e apresenta potencial de ser amplamente empregada em projetos de restauração florestal. Entretanto, o grande desafio é o baixo estabelecimento das plântulas de algumas espécies. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do biossólido e do hidrogel no sucesso da semeadura direta, utilizando um mix de sementes de 29 espécies arbóreas da Mata Atlântica e 5 espécies de adubo verde, através da técnica de “muvuca de sementes”. Foi utilizado um delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2, sendo o primeiro fator o biossólido, com (B+) e sem (B-) e o segundo o hidrogel, com (H+) e sem (H-), com 5 repetições, totalizando 20 parcelas. O lodo de esgoto estabilizado, denominado biossólido, é um resíduo do tratamento de esgoto doméstico, rico em nutrientes, que apresenta potencial de uso como adubo e condicionador de solo. Já o hidrogel é um polímero hidroretentor capaz de prolongar a umidade do solo. O estudo foi conduzido em uma área de 900 m² com predominância de capim colonião entre outras gramíneas, em Seropédica, RJ. Aos 45, 90, 135, 270 dias após a semeadura (DAS) foram identificadas e contabilizadas as sementes que emergiram em cada parcela, através de censo. A viabilidade das sementes foi analisada em laboratório. Foi calculada a emergência, germinabilidade e sobrevivência, média, para cada espécie e por tratamento. A emergência média, considerando todas as espécies, foi de 4,2%, sendo que apenas 22 espécies nativas emergiram. O pico de emergência ocorreu aos 90 DAS para o tratamento B-H+ (3,9%) e aos 45 DAS para testemunha (2,5%), B+H- (3,2%) e B+H+ (4,9%). A germinabilidade média, que considerou o número de sementes emergidas em relação ao número de sementes viáveis semeadas, foi de 8,6%. Houve influência significativa da aplicação do hidrogel (p<0,01) para os parâmetros emergência e germinabilidade. Os tratamentos não tiveram efeito significativo na sobrevivência das plântulas, que foi, em média, de 32,5%. Analisando as espécies separadamente observou-se que a aplicação de biossólido e hidrogel, de forma conjunta, afetou positivamente a emergência de algumas espécies, como a Anadenanthera colubrina, Ceiba speciosa, Astronium urundeuva, Copaifera langsdorffi e Enterolobium contortisiliquum. Para as espécies Bixa orellana, Cassia grandis, Handroathus heptaphyllus, Lonchocarpus muehlbergianus, Peltophoum dubium e Senna multijuga, não houve efeito significativo dos tratamentos. Entre as espécies avaliadas, Enterolobium contortisiliquum (tamboril) e Cassia grandis (cássia-rosa) apresentaram os maiores valores consecutivos de emergência (30% e 10%, respectivamente), germinabilidade (30,6% e 15,4%, respectivamente) e sobrevivência (55,5% e 75%, respectivamente). Handroanthus heptaphylus se destacou em relação à germinabilidade, com 30,8%, juntamente com Ceiba speciosa (31%) e E. contortisiliquum (30,6%). A aplicação de biossólido, mas principalmente do hidrogel na restauração por semeadura direta auxiliou no estabelecimento de plântulas na semeadura direta, nas condições do estudo. Apoio: Comitê de Bacia Hidrográfica Guandu e Embrapa.