Juventude e violência: cenários turísticos e políticos de Paraty

Abstract

A cidade de Paraty, considerada Patrimônio Histórico Nacional, que possui belezas naturais e preserva um conjunto arquitetônico através de séculos, investe em agendas e festivais em nível nacional e internacional o ano todo, também concentra em seu território um fenômeno social relacionado às suas juventudes e a violência. Paraty, foi em 2016 uma das 150 cidades do Brasil onde aconteceu mais assassinatos causados por armas de fogo, e ocupou o 48º lugar no ranking da violência nacional. A principal vítima da violência na cidade de Paraty e outros centros, é a juventude. A delinquência juvenil no município não possui visibilidade e parece ser pouco compreendida pela administração pública. Este estudo teve o objetivo de investigar, analisar e colocar em evidência os fenômenos sociais e suas relações direta e/ou indireta com a violência juvenil no município de Paraty. Nesta pesquisa, reconhecemos como juventude, indivíduos entre 12 e 29 anos, abarcando o período desde o início da adolescência, de acordo com o Estatuto da criança e do adolescente, ao final do período de juventude considerado por autores da sociologia. Escolhemos a metodologia qualitativa e o método cartográfico que nos permitiu acompanhar a processualidade no encontro com jovens e atores comprometidos com esses jovens no bairro Ilha das Cobras, localizado ao lado do Centro Histórico de Paraty. Abordamos temas como cultura, identidade e histórico de ações que originaram as condições sociais atuais consideradas problemáticas pela população. Tomamos como base os estudos estatísticos oficiais relacionados a essa categoria de indivíduo, no âmbito da Educação, Violência, criminalidade e situações diversas. O estudo apresenta: uma descrição sobre o histórico da cidade, com base em sua construção, economia e cultural; considerações sobre Adolescência e juventude e as políticas públicas direcionadas a essa categoria de indivíduos. As cartografias realizadas no bairro ilha das cobras revelaram os tipos de violências que os jovens estão submetidos e também que submetem outras pessoas. As análises das falas dos sujeitos, que ajudaram a construir o estudo, mostraram suas percepções e entendimentos sobre os diversos aspectos da violência na cidade. A partir delas, consideramos que as violências, da forma como observamos hoje, são consequências de outras violências causadas por diversos fatores como: a especulação imobiliária, que tem ocorrido durante décadas em Paraty e retirou a população caiçara de suas terras, levando a viver em áreas periféricas da cidade; o descaso do Poder Público com a população das periferias que foram se formando; a negligencia a cultura caiçara na Educação pública; a insuficiência e a impotência dos projetos sociais, criados com o objetivo de ocupar o tempo das crianças, adolescentes e jovens, com o intuito de deixá-los longe da vida do crime, em produzir sentido de vida; a violação dos direitos infanto-juvenis; o silenciamento, a exclusão e a rotulação social dos jovens dos bairros considerados violentos e a ausência de oportunidades para darem continuidade aos estudos ou se profissionalizarem em outro ramo que não o do turismo predatório, e por fim, a segurança pública ineficiente em combater as violências das formas como elas foram apresentadas, e auxiliar na promoção de recuperação social. Todos os fatores reunidos revelam a complexidade para o enfrentamento da violência urbana em Paraty, e exigem uma proposta integrada dos diversos setores do poder público para a melhoria das condições urbanas atuais da população caiçara