Coagindo os Deuses: o uso de ameaças e intimidações às divindades do Egito Antigo em encantamentos do Reino Novo (séculos XVI - XI AEC)

Abstract

A presente pesquisa versa sobre o tema da prática da magia no Antigo Egito faraônico, tendo como foque de preocupação passagens de textos alcunhados como encantamentos de se utilizam de um tom ameaçador dirigido contra os deuses e deusas egípcios. Tratam-se de falas em que o praticamente da magia afirma que, caso determinado objetivo do encantamento não se concretize como deveria, alguma divindade sofrerá ataques, o culto religioso será extinto ou a ordem dos elementos naturais (com o céu acima, a terra abaixo e assim por diante) será abalada, dentre outras consequências sérias para o pensamento egípcio. Como nos situamos na linha interpretativa atualmente corrente que entende a magia não como oposta, mas como integrante da religião, essas ameaças mágicas tornam-se uma prática recorrente e legalizada; mas, ao mesmo tempo, elas desafiam nossa compreensão sobre o Egito Antigo por se colocarem contra preceitos das próprias crenças egípcias que teoricamente deveriam impossibilitar que fossem realizadas. Assim, debruçamo-nos sobre o período do Reino Novo, época de expansões e consolidações de processos histórico-religiosos, para analisarmos as ameaças em encantamentos. Utilizando tanto o arcabouço da Análise de Discurso francesa quanto parte do método da Análise de Conteúdo, procuramos observar não apenas como as ameaças se inserem nas crenças dos antigos egípcios, mas também, e especialmente, como elas podem contribuir para uma melhor compreensão da antiga religião egípcia.