Representações sociais sobre “ser negro” e “cultura negra”: uma proposta de intervenção para o Ensino Médio.

Abstract

É responsabilidade de cada educador socializar os conhecimentos historicamente produzidos, mas essa socialização não acontece de forma neutra ou sem intencionalidade. A partir de uma intencionalidade pedagógica o ensino é instituído pelo modelo de sociedade que cada educador(a) entende como ideal. Vivendo em uma sociedade de origem colonial e escravocrata, pessoas negras são oprimidas até hoje, enquanto pessoas brancas possuem privilégios que lhes garantem acesso aos direitos que deveriam ser de todos. A escola por muito tempo socializou os conhecimentos eurocêntricos em detrimento dos demais, contribuindo para o apagamento da história Africana e afro-brasileira. Diante disto, tornaram-se necessárias políticas de ações afirmativas e uma delas foi a Lei 10.639/03. Porém, mesmo após vinte anos, a valorização da Cultura Africana e Afro-brasileira ainda é uma realidade distante em muitas escolas. Os objetivos desta pesquisa foram compreender as representações sociais de alunos do Ensino Médio sobre o ser negro e sobre a cultura negra, assim como identificar possibilidades pedagógicas que valorizem a cultura negra, contribuindo para valores antirracistas no âmbito das aulas de Educação Física do Ensino Médio. Essa pesquisa se caracteriza como qualiquantitativa, de natureza descritiva e foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa, a coleta de dados foi realizada através de questionário com os termos indutores “Ser negro” e “Cultura negra” utilizando a técnica de associação livre de palavras. As palavras evocadas receberam um tratamento matemático descritivo com apoio do software Iramuteq. No mesmo questionário, os alunos hierarquizaram as palavras por ordem de importância e justificaram a escolha da palavra mais importante. Foi realizada a análise de dados das justificativas. Na segunda etapa foi realizada uma intervenção pedagógica no segundo bimestre de 2024, com o tema “danças urbanas”. Para avaliar os conhecimentos agregados pelos alunos a partir da intervenção didática, recorreu-se a técnica de grupo focal. O tratamento dos dados coletados no grupo focal foi realizado através da análise de conteúdo. Os resultados das representações sociais sobre “ser negro” apontaram que “racismo” e “preconceito” são os elementos mais representativos do possível núcleo central. A análise prototípica comparativa entre as representações dos alunos negros e dos alunos brancos apontou que os elementos centrais mais representativos são os mesmos para os dois grupos: “racismo” e “preconceito”. Como resultado das representações sociais sobre “cultura negra”, os elementos mais representativos são “dança”, “capoeira” e “trança”. Na análise prototípica comparativa resultantes das representações dos dois grupos (negros e brancos), observou-se que os elementos mais representativos para ambos os grupos foram a “dança” e “capoeira”. Como resultado do desenvolvimento da Unidade Didática (UD), observou-se que as estratégias, recursos e procedimentos utilizados foram adequados aos objetivos propostos. A partir do desenvolvimento da UD, os alunos entenderam que o racismo se manifestava em seus meios sociais, principalmente através de “brincadeiras” de mau gosto e nas desigualdades de oportunidades na área do trabalho. Os alunos demonstraram que ampliaram seu entendimento sobre o racismo, apresentaram novas perspectivas antirracistas e ampliaram seus conhecimentos sobre as contribuições negras na cultura e na sociedade de uma maneira geral.