Introdução de espécies forrageiras de inverno na microbacia do Ribeirão das Furnas em Aiuruoca, MG: uma experiência de socialização do conhecimento com agricultores familiares

Abstract

Desde o período da colonização pós-indígena, após a descoberta do ouro em Minas Gerais, na microbacia leiteira do Ribeirão das Furnas, no município de Aiuruoca, sul de Minas Gerais, as pastagens naturais e, posteriormente, as pastagens formadas com espécies exóticas, foram a principal fonte de alimento para o rebanho leiteiro até as décadas atuais, segundo os relatos dos agricultores familiares locais. Nos últimos anos, apesar dos importantes avanços referentes ao manejo da fertilidade química do solo e do manejo das pastagens a partir da introdução de espécies forrageiras, identifica-se o desinteresse dos agricultores, herdeiros destas terras, a respeito desses avanços e, simultaneamente, a crescente dependência dos mesmos na suplementação da alimentação dos rebanhos com fontes externas às unidades produtivas. As dificuldades relacionadas à estacionalidade na produção de forragem, e a carência de informações a respeito da importância do manejo adequado de corretivos e fertilizantes de certa forma contribui para a degradação das pastagens e a consequente exposição dos solos aos processos erosivos, submetendo os agricultores a uma situação de vulnerabilidade, o que, em algumas situações, leva ao abandono da atividade pecuária e, até mesmo, da unidade de produção agrícola. Neste cenário, o presente trabalho teve como objetivos avaliar, de forma participativa a partir de estudo de caso, o desempenho fitotécnico no período de outono - inverno das espécies forrageiras Avena strigosa (aveia preta), Avena sativa (aveia branca), Vicia sativa (ervilhaca comum) e Raphanus sativus (nabo forrageiro) em monocultivo e consorciadas, bem como avaliar o benefício da correção da acidez e da fertilização com diferentes fontes, orgânica e sintética, no estabelecimento destas forrageiras. Para tanto, foram implantadas parcelas observacionais, cujas etapas de instalação, acompanhamento e coleta contaram com a participação ativa de agricultores circunvizinhos. Os resultados observados denotam que as metodologias participativas adotadas, fundamentadas na metodologia da pesquisa-ação, foram estimuladoras do envolvimento dos agricultores nas distintas etapas do trabalho, tornando possível verificar reflexões coletivas e individuais no que se refere aos aspectos abordados do manejo da fertilidade química do solo, bem como sobre as próprias espécies forrageiras introduzidas. Quanto ao desempenho fitotécnico das espécies, a aveia preta, a veia branca e o nabo forrageiro apresentaram características fitotécnicas como a rápida cobertura do solo e bom potencial de produtividade de massa fresca e seca nas parcelas que receberam calcário e fertilizantes. Em contrapartida, a ervilhaca apresentou estabelecimento aquém do desejável, mesmo na presença do corretivo de acidez e da fertilização. Destarte, foi possível concluir neste estudo de caso que a correção da acidez e a fertilização mostram-se instrumentos do manejo da fertilidade química do solo imprescindíveis ao adequado desenvolvimento das espécies forrageiras de inverno, exceto a ervilhaca comum, semeadas nas condições edafoclimáticas da microbacia do Ribeirão das Furnas em Aiuruoca, Minas Gerais.