Estoques de carbono e nitrogênio e frações húmicas em solos com elevados teores de matéria orgânica na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia (RJ)

Abstract

Na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia (PNI) são encontrados solos com elevados teores de matéria orgânica nos horizontes superficiais, muitos deles classificados como Organossolos e outras classes com horizontes hísticos, no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS). Esses solos apresentam elevada fragilidade ambiental diante de alterações climáticas e ações antrópicas. O objetivo geral do estudo foi estimar estoques de C e N em solos com alto teor de matéria orgânica, bem como avaliar frações orgânicas da MOS, e propor critérios relevantes para diferenciar esses solos e classificá-los em níveis taxonômicos inferiores no SiBCS. No primeiro capítulo foram avaliados horizontes superficiais de solos com altos teores de matéria orgânica, objetivou-se: i) utilizar funções de pedotransferência (FPTs) desenvolvidas por Beutler et al. (2017) para estimar a densidade do solo (Ds); e ii) avaliar os estoques de C e N desses solos. No segundo capítulo foram avaliados perfis de Organossolos visando: i) quantificar os teores de carbono orgânico lábil nos horizontes orgânicos; ii) quantificar os teores de C e N das substâncias húmicas (SH); iii) avaliar as relações entre o C e N das SH com base na razão estequiométrica (C/N); e iv) propor critérios de classificação para os níveis categóricos inferiores dos Organossolos Fólicos e Háplicos no SiBCS. Os resultados no Capítulo I mostraram conteúdo de C entre 50 a 150 g kg-1 e de N superiores a 10,0 g kg-1 nos solos. Para a Ds foi observado incremento em profundidade, com valores próximos a 0,50 Mg m-3 nos horizontes superficiais e maiores que 0,75 Mg m-3 a partir dos 30 cm de profundidade no perfil. As FPTs (Beutler et al., 2017) permitiram estimar a Ds nas amostras de horizontes, desta forma, foi possível quantificar os estoques de C e o N nos solos estudados na parte alta do PNI. Considerando a área ocupada pelas três ordens de solos com horizontes hísticos na parte alta do PNI (Costa, 2019) de 16.403,7 hectares, os estoques de C alcançam valores de cerca de 3.269,9 Gg de C e 204,3 Gg de N. Desta área total, 10.254,44 ha correspondem aos Cambissolos, com estoque de 830,4 Gg de C e 53,1 Gg de N. Para os Organossolos, a área ocupada é de 4.148,4 ha e o estoque de 2.241,9 Gg de C e 13,78 Gg de N. A área de Neossolos é de 1347,7 ha e foi quantificado o estoque de 196,6 Gg de C e 13,4 Gg de N. Os resultados obtidos no capítulo II, mostraram ampla variação nos teores de C e N total desses solos. Os índices das relações entre o o C e N das frações de ácidos húmicos (AH) e ácidos fúlvicos (AF) (médias de CAH/CAF = 1,61 e NAH/NAF = 1,05), C e N do extrato alcalino e humina (HUM) (médias de CAE/CHUM = 0,71 e NEA/NHUM = 0,38), C e N do extrato alcalino e C total e N total (médias de CEA/CT = 0,28 e NEA/NT = 0,19) mostraram-se bons indicadores do grau de humificação da MOS. Este resultado indica que podem ser adotados na definição de classes no nível de família em Organossolos Fólicos e Háplicos no SiBCS, por terem uma relação direta com propriedades químicas desses solos. Da mesma forma, esses indicadores são recomendados para avaliar o grau de mineralização ou humificação da matéria orgânica desses solos podendo contribuir para o monitoramento de processos de alteração diante de mudanças climáticas ou ações antrópicas e para preservação desses solos. Estes resultados ressaltam a importância da proteção desses solos para a unidade de conservação (PNI) e pelos serviços ecossistêmicos prestados.