Os sertanejos e o sertão da Bocaina: uma abordagem etnoecológica

Abstract

A perda da biodiversidade, desencadeada por diversos processos que ao longo do tempo modificaram as paisagens globais, é tema recorrente na atualidade. Nesse contexto, praticas e técnicas de conservação geralmente consideram apenas o ambiente, se esquecendo que as paisagens são formadas também por pessoas, que apesar de interferirem no ambiente, não deve ser tomado como regra que esse seja responsável pela perda da diversidade biológica, sem que antes se discuta: de qual “homem” (grupos humanos) estamos falando e em que contexto e escala este opera. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo utilizar a etnoecologia como uma ferramenta orientada ao entendimento das mudanças no uso e manejo do solo, nos recursos naturais e, consequentemente, dos processos de transformação da unidade de paisagem sertão, a partir da percepção de sertanejos atualmente fora de seus territórios. Para tanto, foram realizados trabalhos de campo, no município de São José do Barreiro – SP no período de janeiro a abril de 2017. Os sertanejos foram selecionados pelo seu autorreconhecimento. Todas as informações foram registradas em diário de campo, com reprodução fiel das palavras dos informantes e gravação autorizada das entrevistas. Sendo assim, concluiu-se que a presença do sertanejo resultou em mudanças na paisagem, havendo uma recente e drástica mudança do modo de vida de todo um povo, denotando perdas em nosso patrimônio histórico e cultural. Hoje os saberes tradicionais referentes ao uso e manejo dos recursos naturais estão mais contidos nas memórias bioculturais do que nas práticas, o que indica extinções e erosões de conhecimentos.