Identificação de variáveis biológicas do solo associadas ao crescimento de mogno africano em sistema agroflorestal

Abstract

O presente estudo objetivou avaliar a relação entre indicadores da qualidade biológica do solo e variações na taxa de crescimento de mogno-africano. Cinco variáveis biológicas do solo (carbono da biomassa microbiana - CBM, respiração basal e atividade das enzimas arilsulfatase, β-glicosidase e fosfatase) foram avaliados em amostras de solo coletadas em 37 sítios de manejo sob cultivo das espécies Khaya ivorensis e Khaya anthotheca, com idades variando de 6 a 67 meses e manejadas em sistema agroflorestal. Também foram registradas variáveis dendrométricas (altura, diâmetro e volume) e qualitativas (vigor, qualidade do fuste) de árvores-amostra representativas de cada sítio, além de variáveis sítio-específicas como o posicionamento em borda de fragmento de floresta nativa, em terreno em declive e/ou sombreado. Apesar da similaridade dos tratos culturais aplicados nos sítios de manejo, as taxas de incremento volumétrico variaram de 17 a 35.000 cm3.ano-1 evidenciando a grande variabilidade da produtividade nos sítios selecionados. A maioria dos indicadores biológicos também apresentou grande variação entre as áreas tendo o CBM variado de 7 a 240 mg.kg-1, a taxa de respiração basal de 1,2 a 11 mg C-CO2.kg-1.dia-1, a atividade de fosfatase de 88 a 1470 μg.g-1.h-1 de p-nitrofenol e a de β-glicosidase de 6 a 99 μg.g-1.h-1 de p-nitrofenol. A atividade de arilsulfatase, entretanto, apresentou pequena variação entre os sítios, com valores de 946 a 1224 μg.g-1.h-1 de p-nitrofenol. Os dados foram analisados pelo método de árvores de classificação e regressão de modo a modelar o incremento volumétrico, o vigor e a qualidade de fuste das árvores em função da “espécie”, “idade” e variáveis sítio-específicas e biológicas. O modelo ajustado mostrou que árvores com menos de 43 meses de idade, independente da espécie de mogno, apresentaram maiores incrementos em áreas com maiores atividades de β-glicosidase e arilsulfatase. Quando consideradas apenas as variáveis sítio-específicas no modelo, árvores em áreas planas não-sombreadas apresentaram média de incremento volumétrico superior (9984 cm3.ano-1) ao de áreas planas sombreadas (3520 cm3.ano-1) e de áreas declivosas (3072 cm3.ano-1). A qualidade de fuste foi classificada como “bom” para 98% das árvores da espécie K. ivorensis e como “médio” para 61% das árvores de K. anthotheca localizadas em sítios com atividade de fosfatase menor que 494 μg.g-1.h-1 de p-nitrofenol. O maior vigor das plantas foi associado a áreas com maior atividade de arilsulfatase (>1036 μg.g-1.h-1 de p-nitrofenol) e o menor vigor a áreas com K. ivorensis. Esses resultados demonstram que a qualidade biológica do solo e fatores sítio-específicos, como declividade e sombreamento, afetam o crescimento das árvores de mogno-africano pelo menos até os 3,5 anos de idade, sendo esse efeito mais pronunciado na espécie K. ivorensis do que em K. anthotheca.