Cadeia produtiva da restauração ecológica: uma análise das espécies florestais produzidas no estado do Rio de Janeiro

Abstract

A Mata Atlântica brasileira é reconhecida como um dos hotspots mais importantes do mundo, bioma no qual o estado do Rio de Janeiro encontra-se totalmente inserido. Hoje seus remanescentes de vegetação nativa ocupam cerca de 30% da área total do estado. Para reverter esse cenário e cumprir os acordos regionais e internacionais traçados na Década da Restauração, se faz extremamente necessária a execução de projetos de restauração ecológica. Para que essas metas sejam alcançadas, é necessário ter uma cadeia produtiva sólida, que supra a demanda atual do estado, com mudas de qualidade que garantam o sucesso dos projetos de restauração implementados. Diante disso, o presente trabalho fez o levantamento das informações pertinentes à cadeia da restauração dos viveiros florestais ativos no estado do Rio de Janeiro. Também avaliou a relação de espécies arbóreas produzidas por metade dos viveiristas, que disponibilizaram sua lista de espécies. Por fim, comparou as espécies produzidas pelos viveiristas com aquelas utilizadas nos projetos de restauração do estado executados no âmbito da Resolução Inea nº 143/2017. Foram encontrados 120 viveiros pelo estado inicialmente e apenas 81 (68%) estavam ativos em 2020. Dos 92 municípios do estado, apenas metade (46) possui pelo menos um viveiro florestal. Dentre os ativos, 73 (90%) responderam ao questionário elaborado para realizar o diagnóstico, e 46 (57%) apresentaram a lista de espécies que produzem mudas. No total, contabilizamos 977 espécies florestais sendo produzidas nos viveiros do Estado do RJ, das quais 673 (69%) são nativas da Mata Atlântica, 107 (11%) são nativas de outros biomas e 197 (20%) são consideradas exóticas. Dentre as exóticas produzidas, 17 (19%) são consideradas invasoras. Cerca de 450 espécies possuem algum grau de endemismo, sendo 255 (26%) endêmicas do Brasil, 184 (19%) endêmicas da Mata Atlântica e 11 (1%) endêmicas da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Com relação ao status de conservação das espécies, das 538 espécies nativas produzidas pelos viveiros, 144 (27%) estão categorizadas com algum grau de ameaça. Dentre os grupos de sucessão ecológica, 292 (30%) espécies ocupam o grupo das Secundárias Tardias, 269 (28%) o das Pioneiras e 207 (21%) o das Secundárias Iniciais. Quanto à Síndrome de Dispersão, o maior grupo produzido é o das Zoocóricas (67%). Quanto à procedência das sementes, 84% obtêm a partir de coleta própria e 30% coletam em remanescentes florestais próximos ao viveiro. 34% dos viveiristas do estado não coleta sementes em matrizes georreferenciadas. A maioria dos viveiros não disponibiliza as mudas para comercialização, a maior parte das mudas produzidas é doada. Dos que comercializam, a maioria declarou que o retorno financeiro é abaixo do esperado. Quanto à destinação, quase 70% das mudas produzidas destinam-se à restauração, dessa forma, quanto mais projetos de restauração implementados, mais sólido será o setor de produção de mudas. Entretanto, das 977 espécies produzidas, os restauradores estão se restringindo a utilizar uma gama de apenas 303 espécies, representando 31% da riqueza disponível. Logo, praticamente 70% da riqueza produzida (674 espécies) não vem sendo utilizada nos projetos de restauração implementados. Das 386 espécies citadas nos projetos de restauração do estado do Rio de Janeiro, 83 (22%) não fazem parte da lista de espécies que os viveiros trabalham. Portanto, podem estar sendo introduzidas de fora do estado. Por fim, foram feitas análises sobre as 303 espécies comuns às duas listas. Comparando as 30 espécies mais produzidas nos viveiros e as 30 mais utilizadas pelos restauradores nas áreas avaliadas, 20 (67%) são equivalentes. Todas as espécies produzidas pelos viveiros do estado do Rio de Janeiro analisadas encontram-se disponíveis para consulta ao final do presente trabalho.