Tratamento e disposição final de águas residuárias de bovinocultura em solos sob manejo orgânico de produção de olerícolas

Abstract

O sistema de bovinocultura leiteira confinada emprega técnicas modernas de produção, no que se refere aos padrões genéticos dos rebanhos, no entanto o sucesso encontrado nestes sistemas de produção promoveu um aumento do número de animais confinados e, consequentemente, aumentou a produção de dejetos de forma concentrada, tornando os resíduos da bovinocultura de leite um dos grandes problemas em sistema de manejo intensivo. Esse efluente possui elevado potencial poluidor devido à carga de nutrientes e ao material orgânico em sua composição e a incorporação deste material pode provocar efeitos deletérios aos solos e eutrofização, quando alcança cursos d’água. Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo avaliar uma unidade piloto de tratamento (UPT) para águas residuárias de bovinocultura de leite (ARB), implantada em um sistema integrado de produção agroecológico (SIPA), para destinação final em solo cultivado com olerícolas.As doses de ARB tratada foram crescentes, determinadas em função da concentração de nutrientes presentes no efluente e na demanda pelas culturas (alface e cenoura). Para tanto, o trabalho foi dividido em quatro capítulos, precedidos por uma revisão da literatura acerca da dinâmica do nitrogênio no ambiente, métodos de tratamento de águas residuárias e impactos aos seres vivos, bem como aos aspectos sanitários relativos aos indicadores de contaminação fecal, sua persistência no ambiente e técnicas de sua remoção. No primeiro capítulo, apresenta-se a configuração da UPT e, por meio dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos de águas e efluentes, a caracterização da ARB produzida nas instalações da bovinocultura de leite do SIPA e após a passagem pelas sucessivas etapas de tratamento, além da avaliação das eficiências de remoção de cada elemento químico. Concluiu-se que a UPT é uma estratégia viável para gestão integrada dos resíduos do confinamento animal, viabilizando a utilização do biofertilizante produzido em lavouras sob manejo orgânico. O segundo capítulo apresenta a avaliação, por meio dos parâmetros fitotécnicos e sanitários, da disposição final da ARB tratada na UPT, em cultivo orgânico de alface sob doses de 50, 100, 200 e 300% da dose referência de 90kg.ha-1 de N. Concluindo-se que a ARB tratada proporcionou, como fonte alternativa de água e nutrientes, aumento de produtividade ao cultivo de alface, porém deve ser avaliada quanto ao parcelamento das doses aplicadas, evitando-se sua aplicação ao longo de todo o ciclo da cultura. No terceiro capítulo é apresentado, de forma semelhante ao anterior, a disposição final da ARB tratada na UPT ao cultivo orgânico de cenoura, sob doses de 0, 100, 200 e 300% para fornecimento da dose referência de 150 kg.ha-1 de N, em que foram avaliadas a parte aérea e raízes principais quanto ao crescimento, acúmulo de nutrientes e qualidade sanitária. Concluindo-se que a aplicação de 100% da ARB tratada viabilizou a produção acima da média nacional e poderia, nas condições experimentais, substituir a demanda por água e nutrientes à cenoura sob manejo orgânico. O quarto capítulo, complementar ao anterior, apresenta a avaliação do impacto em duas camadas (0-20 e 20-40 cm) do solo cultivado com cenoura sob aplicação das doses de ARB tratada, com base nos parâmetros químicos do solo e seus derivados. Constatou-se que, apesar da ARB aplicada não ter provocado acúmulo de nutrientes no solo, em virtude das lâminas aplicadas serem excessivamente elevadas, parte dos nutrientes aplicados não tenha sido recuperado pelo cultivo instalado.