Lugar de mulher é na pesca: o olhar de uma marisqueira em Farol de São Thomé, Campos dos Goytacazes, a partir do PEA Pescarte

Abstract

Este estudo buscou compreender acerca da manutenção e ocupação das arenas de poder, que estão imbricadas na Gestão Ambiental Pública (GAP), tendo como princípio a Educação Ambiental Crítica, como instrumento do Licenciamento Ambiental Federal de petróleo e gás (P&G), que atende às comunidades de pesca tradicionais em condição de vulnerabilidade socioambiental. O objetivo geral da pesquisa foi a análise das transformações sociais ocorridas na vida de uma marisqueira, que participa, ativamente, das ações do Projeto de Educação Ambiental Pescarte, moradora da Vila dos Pescadores, comunidade pesqueira localizada em Farol de São Thomé, Campos dos Goytacazes (RJ). O estudo buscou investigar a trajetória de vida dessa marisqueira, a fim de buscar elementos que dialoguem com sua atuação no PEA Pescarte; compreender como a prática pedagógica do PEA Pescarte agregou novas ‘visões de mundo’ na vida da marisqueira; e ratificar a importância da participação dos sujeitos da ação educativa na transformação social dos/das pescadores/as na localidade investigada. No sentido de atender aos objetivos propostos, utilizou-se uma abordagem qualitativa e, dentre os procedimentos técnicos, destacaram-se a história de vida junto a uma pescadora e a observação participante de sua atuação nas ações pedagógicas desenvolvidas pelo PEA Pescarte. Os resultados apontam para uma transformação na vida da personagem-chave. A partir de sua trajetória de vida, observa-se, gradativamente, o aumento de sua participação e o engajamento na luta pela garantia dos direitos sociais para sua comunidade. A pesquisa revelou que, embora ocorra um processo de invisibilização das mulheres nos territórios da pesca, a personagem investigada tem assumido papel de destaque evidenciando-a como liderança local. De maneira geral, o estudo ressalta que a utilização de processos de educação ambiental de viés crítico foi importante para que essa mulher ocupasse um espaço social e político na pesca, que, historicamente, é dominado por homens ligados à captura do pescado