Presenteísmo e anomia organizacional: estudo com trabalhadores brasileiros

Abstract

O objetivo deste estudo foi comparar o presenteísmo e a anomia organizacional em função de 3 diferentes cenários envolvendo a relação trabalho x doença, que foram criados junto ao grupo de pesquisa, para preencher uma lacuna existente na teoria do presenteísmo. O primeiro cenário se referia a um contexto em que o trabalhador ia ao seu local de trabalho mesmo doente por vontade própria, o segundo por medo e no terceiro o trabalhador gozava a licença médica sem problemas. O presenteísmo é visto como uma redução da produtividade associada a motivos de doença, pois o trabalhador está presente em seu ambiente de trabalho, mas não produz da forma esperada. A anomia organizacional está relacionada a condições de desintegração e desordem organizacionais, provocando um enfraquecimento das normas, que se tornam insuficientes para orientar a conduta do indivíduo no trabalho. A pesquisa foi realizada com 502 trabalhadores brasileiros estudantes universitários de uma instituição privada de ensino superior, de diferentes regiões brasileiras, de forma virtual através da plataforma Survey Monkey. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram Escala Stanford de Presenteísmo (Stanford Presenteeism Scale - SPS-6) e a escala de Anomia Organizacional, assim como levantamento sociodemográfico e os 3 cenários com relação trabalho x doença. Para atingir os objetivos do estudo e analisar os dados coletados foram utilizados os programas estatísticos IBM SPSS (Statistical- Package for the Social Sciences) e o AMOS (Analysis of Moment Structures), ambos da versão 19, para fins de realização de análise fatorial exploratória e análise fatorial confirmatória, respectivamente. A análise dos dados evidenciou diferenças significativas em relação a anomia em função dos cenários, sendo esta mais elevada em trabalhadores que mesmo doente vão trabalhar por medo de algum tipo de retaliação, seguidos por aqueles que gozam a licença sem qualquer problema. Outro ponto que merece destaque foi a não existência de diferença significativa em relação aos escores de presenteísmo nos 3 grupos. Os resultados permitem concluir pela necessidade de revisão da teoria do presenteísmo, incluindo aqueles casos em que o trabalhador está presente em seu local de trabalho por medo de algum tipo de retaliação por parte de colegas ou mesmo da organização. São sugeridos novos estudos de modo a permitir uma melhor compreensão das relações entre as variáveis aqui consideradas.