Entre a doutrina da igreja e o anticomunismo: os decretos moralistas de Jânio Quadros em 1961

Abstract

Pretendo, neste texto, analisar os decretos dos usos e costumes de Jânio Quadros durante sua breve gestão presidencial em 1961. Depois de uma revisão bibliográfica, percebe-se a imensa lacuna acerca desses atos, considerados, em grande parte, como ações frutas da falta de equilíbrio psicológico de Jânio. Dessa maneira, seriam medidas descabidas, porque a conjuntura era marcada por grande radicalização política bipolar, não fazendo sentido as intervenções presidenciais nos comportamentos por serem consideradas anacrônicas. Tentando evitar essa perspectiva, sugiro que tais atitudes foram bastante pertinentes para uma parcela considerável da população, principalmente, para setores da Igreja Católica. Isso porque, entre outros motivos, estavam relacionados à doutrina moral cristã e ao combate ao comunismo, portanto, coincidiam com a visão de mundo de diversos religiosos. Dessa forma, eles vão admirar essas medidas, gerando prestígio político a Jânio, porque ajudava na construção da imagem de um líder moralista e religioso. Para dar suporte a essa hipótese, foram pesquisadas fontes da imprensa católica e telegramas destinados a Jânio. Ambos indicam o quanto os mencionados decretos estavam atrelados às propostas políticas desses fiéis. Assim, não foram medidas isoladas de Jânio, pois houve ramificações aos níveis mais baixo da sociedade. Portanto, esses crentes tiveram um papel ativo na implementação desses decretos.