Tuberculose em primatas não humanos do Novo e Velho Mundo

Abstract

A tuberculose é uma doença infecciosa crônica que causa alta morbidade e mortalidade em humanos e primatas não humanos, especialmente em cativeiro. No Brasil, a incidência desta doença em humanos tem aumentado lentamente nos últimos anos, o que a tornou uma doença classificada como reemergente. A tuberculose tem distribuição cosmopolita e é causada pelos microrganismos pertencentes ao complexo Mycobacterium tuberculosis. Neste estudo são descritos os achados epidemiológicos, clínicos, patológicos e moleculares dos diferentes estágios da tuberculose em primatas do Novo e do Velho Mundo naturalmente infectados com o Complexo Mycobacterium tuberculosis e mantidos sob cuidados humanos no Rio de Janeiro, Brasil. Quinze primatas não humanos de cinco colônias diferentes foram incorporados ao estudo, dos quais 60% (9/15) foram primatas do Velho Mundo e 40% (6/15) primatas do Novo Mundo. Os estágios da tuberculose foram classificados de acordo com os achados macroscópicos e histopatológicos em: tuberculose crônica-ativa, tuberculose extrapulmonar, estágio de ativação-inicial da tuberculose e reativação latente. Entre os primatas do Velho Mundo, 66,7% (6/9), todos macacos rhesus (Macaca mulatta), apresentaram pneumonia granulomatosa multifocal severa. Em todos os casos de tuberculose em primatas do Velho Mundo, granulomas típicos foram observados em pelo menos um órgão, independentemente do estágio da doença. Nos primatas do Novo Mundo, os granulomas pulmonares típicos foram vistos em 16,7% (1/6) dos casos, apenas no estágio de reativação latente em um espécime de Cuxiú (Chiropotes utahickae). Neste estudo, 66,7% (6/9) dos primatas do Velho Mundo e 83,3% (5/6) dos primatas do Novo Mundo apresentaram alterações pulmonares na avaliação histológica. O diagnóstico de tuberculose nos primatas não humanos neste estudo foi baseado nos achados patológicos, imuno-histoquímicos, moleculares e bacteriológicos. Embora a apresentação típica tenha sido observada em alguns casos, a ausência de granuloma pulmonar não excluiu a ocorrência de tuberculose em primatas não humanos do Novo e do Velho Mundo. A tuberculose deve ser incluída como causa de pneumonia intersticial com macrófagos

espumosos nos primatas não humanos do Novo Mundo. Devido à alta sensibilidade da imuno- histoquímica com anti-Mycobacterium tuberculosis, sugerimos a incorporação dessa técnica

como ferramenta diagnóstica da tuberculose em primatas não humanos, mesmo quando as alterações típicas não são observadas.