Espacialidade das trabalhadoras domésticas negras

Abstract

A pesquisa tem como foco a análise da interação entre o trabalho remunerado e a identidade das mulheres negras que são trabalhadoras domésticas, especialmente no contexto pandêmico brasileiro ocasionada pela COVID-19. A pesquisa reconhece o ambiente doméstico como o espaço onde essas mulheres frequentemente enfrentam a subalternização e a invisibilidade que perpetua estereótipos historicamente associados às "mucamas permitidas" de Lélia Gonzalez. Ao longo de suas trajetórias, essas mulheres, sobretudo as negras, enfrentam manifestações de discriminação como as de gênero e raça, além de desafios complexos que surgem da interseção entre gênero, raça e classe. A pesquisa também investiga a divisão sexual do trabalho que gera a sobrecarga de tarefas domésticas relacionada ao gênero, o que ocasiona a necessidade de conciliação do trabalho não remunerado com o trabalho remunerado, um recorte comumente enfrentado por mulheres. Ressaltam-se, também, questões relacionadas às raízes escravistas do trabalho doméstico no Brasil, o que demanda uma análise que leve em conta as complexas interseções de gênero, raça e classe. Portanto, a análise crítica do racismo estrutural desempenha papel crucial ao longo das reflexões, expondo a situação das trabalhadoras domésticas, principalmente as negras, com relação às condições precárias e discriminações sistemáticas a que são submetidas. Além disso, a pesquisa destaca a urgência da criação e de melhorias de políticas públicas que garantam condições de trabalho mais dignos, remunerações mais justas, além do reconhecimento do trabalho doméstico não remunerado também como uma dimensão legítima do trabalho que precisa ser valorizado. Já com relação à metodologia, a pesquisa inclui uma análise qualiquantitativa dos impactos da pandemia na vida das trabalhadoras domésticas, com o objetivo de mapear os espaços de relações em que essas mulheres atuam, além de analisar as dinâmicas entre essas trabalhadoras domésticas negras e as pessoas que compartilham esses espaços com elas. A pesquisa considera a contribuição da espacialidade doméstica para entender a construção das identidades das trabalhadoras frente a práticas históricas de subalternização. Nesse sentido, a abordagem interseccional da pesquisa considera igualmente os marcadores de raça, classe, gênero e idade. A metodologia combina abordagens qualitativas e quantitativas, que questiona as bases da produção de conhecimento, defendendo a valorização das perspetivas dos sujeitos tradicionalmente excluídos do processo de produção de conhecimento, como aborda as Geografias Encarnadas e Corporificadas.