O mercado da magia no Rio de Janeiro: papai Félix, vovó Thomasia e outras histórias de sorte e caiporismo na República

Abstract

Este trabalho averigua as relações de troca nas quais as religiosidades afro-cariocas estavam inseridas nos anos iniciais da República brasileira, através da descrição do interior do mercado da magia, dos sujeitos que nele circulavam, assim como das práticas e modelos de funcionamento que lhe eram típicos na última década do século XIX. Trata-se também das entranhas da circulação comercial de práticas mágicas, assim como das relações teológicas e interpessoais postas no interior de uma casa afrorreligiosa, localizada na antiga região carioca do Mangue e conduzida por dois especialistas religiosos: uma sacerdotisa conhecida como Vovó Thomasia e um sacerdote conhecido como Papai Félix. A referida casa foi alvo de uma matéria antimagia conduzida pelo Jornal do Brasil, o que gerou uma série de dez reportagens publicadas entre 14 de abril e 23 de abril de 1897. O presente trabalho também discute a cultura religiosa carioca dos primeiros anos da república brasileira e a influência de diferentes correntes intelectuais nas decisões políticas e jurídicas da República brasileira, a fim de ilustrar as condições que levaram ao estabelecimento de uma campanha antimagia no pós-abolição, culminando na elaboração dos artigos 156, 157 e 158 do Código Penal de 1890, assim como também debate os embates e a repercussão que esta legislação criou na sociedade, na imprensa e no Estado brasileiro.