O grafismo marajoara: ressemantização afro-indígena na comunidade tradicional de matriz africana Ilê da Oxum Apará / Gildasio Miranda do Carmo

Abstract

Esta dissertação tem como objetivo analisar o uso tradicional da cerâmica marajoara na contemporaneidade, com foco na sua ressemantização, no estudo de caso da comunidade tradicional de matriz africana Ilê da Oxum Apará, situada no município de Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro. O estudo parte da análise de 15 peças cerâmicas marajoaras que compõem o ACIOA - Acervo Cultural do Ilê da Oxum Apará, buscando compreender como os grafismos presentes nesses objetos são ressemantizados no contexto tradicional e cultural, compondo o seu patrimônio imaterial e material. A pesquisa examina o sentido semântico do grafismo marajoara como elemento simbólico, tradicional e estético. A investigação evidencia que esses grafismos são mais do que ornamentos, constituindo registros visuais de narrativas históricas, cosmologicas e ancestrais, que dialogam com as práticas das comunidades tradicionais de matriz africana. Utilizando como referencial teórico os conceitos de identidade afroindígena e afropindorâmica (Pacheco, 2017; Goldman, 2021 e Santos, 2015), bem como as políticas de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial delineadas nas Cartas de Fortaleza (1997) e Mar del Plata (1997), e conceito de referencial cultural (Menezes, 2014). A análise também considera o processo histórico de nacionalização e espetacularização do grafismo marajoara no início do século XIX, (Linhares, 2015 e Valle, 2008) em especial no movimento modernista e Art Déco, por meio da atuação de artistas como Theodoro Braga, Vicente do Rego Monteiro e Corrêa Dias. Em contraponto, destaca-se o papel dos mestres ceramistas contemporâneos, como Mestre Cardoso, que impulsionou o grafismo neomarajoara, reafirmando uma estética popular, viva e identitária.