A autoria e os processos de inserção do indivíduo: desenvolvendo a leitura e escrita no ambiente escolar

Abstract

Este trabalho apresenta uma proposta de atividades de leitura e escrita voltadas para o segundo segmento do ensino fundamental a partir de reflexões sustentadas na Análise do discurso de base materialista, que tem Michel Pêcheux (1975) como seu precursor na França e no Brasil é desenvolvida por Eni Orlandi (1999, 2009), dentre outros pesquisadores. O intuito é analisar possíveis efeitos da aplicação da AD ao mobilizá-la como base para as aulas de língua portuguesa para promover práticas de leitura e escrita no ensino fundamental, em escolas públicas municipais do município do Rio de Janeiro, rede para onde o trabalho foi pensado. As propostas foram pensadas para turmas de oitavo ano, podendo também ser estendidas para o nono ano, público para o qual pensei um arquivo textual que traga não só na temática, mas na escrita em si, o cotidiano e a coletividade do povo negro e periférico e, além disso, a escrita de autoras e autores negros. Para mediar e nortear essa seleção textual, me baseei na teoria sobre a “escrevivência” de Conceição Evaristo, teorizada por Duarte e Nunes (2020). As atividades propõem atividades de leitura oral e escrita para formação de memória discursiva que leve o aluno ao processo de escrita, onde ocupará a posição de sujeito-autor, sem necessária ou obrigatoriamente ser limitado a reprodução de sentidos já prontos, podendo produzir sua leitura a partir de seus gestos interpretativos. Os textos literários farão o trabalho de interdisplinaridade entre Literatura e AD, além de atender a opção pela narrativa como modo de estruturação. Os textos formadores dos arquivos serão compostos por Evaristo (2014), Cuti (2016), Lourenço (2013, 2022), Emicida (2020), Ferréz (2020), dentre vários outros. As duas primeiras fases da atividade propõem leituras orais e dinâmicas e sugerem interações entre a turma, que busquem reflexões acerca das vivências periféricas, a terceira fase propõe leituras e produções breves e promovem a autoria coletiva, com textos que refletem sobre, além da vivência periférica, a identidade dessa periferia e a quarta e última fase propõe uma coletânea de produções escritas de cada aluno, com o intuito de compartilhamento da escrita e dos gestos de leitura e autoria. Para reflexões acerca da AD e seus conceitos, aponto as contribuições de Orlandi (2009), Orlandi e Lagazzi-Rodrigues (2017) e Pêcheux (2006). Para pensar e analisar o papel da leitura e da escrita no ambiente escolar e o texto, a leitura e a escrita numa perspectiva discursiva, aponto para Orlandi (1998, 1999, 2009, 2012, 2014 e 2017), Fernandes (2019), Rodrigues e Moraes (2020). Indursky (2001, 2017 e 2019). A perspectiva sociológica de Althusser (1980) também norteou as reflexões e além dela, a concepção freireana de educação, através de Freire (1987, 1989, 1996) conduz o fazer linguístico e pedagógico que proponho.