A promoção da identidade étnico-racial na adolescência: efeitos do PROGRAMA GINGA

Abstract

Construir uma narrativa acerca da identidade étnico-racial é uma tarefa complexa a depender do grupo de pertença. A racialização dos povos possui componentes históricos e políticos que integram a complexidade de elementos que emergem dos estudos acerca da construção da identidade e o racismo é uma das graves consequências desse processo. Esta Tese teve por objetivo implementar um programa psicoeducativo antirracista para promoção da diversidade da identidade étnico-racial de adolescentes. Foi realizado um estudo com delineamento multi métodos e abordagem qualitativa. A pesquisa foi organizada em 04 estudos: (I) Análise bioecológica do desenvolvimento de adolescentes em um território de vulnerabilidade social a partir do método da Inserção Ecológica realizada no período de 2021 a 2023. (II) Revisão

Integrativa da Literatura para compreender como o processo de construção da identidade étnico- racial de adolescentes é abordado na literatura brasileira e (III) Apresentação do percurso

teórico-metodológico do processo de construção do Programa Ginga -Programa psicoeducativo antirracista para promoção da diversidade da identidade étnico-racial de adolescentes; (IV) Relato de experiência da bolsa de doutorado sanduíche realizada em Moçambique. No primeiro estudo os resultados encontrados mostraram que: no que concerne às características da pessoa, eram adolescentes majoritariamente negros vindos de famílias chefiadas por mulheres, estudantes de escola pública. Acerca dos processos proximais disponíveis no ambiente eram escassos, com acesso limitado a atividades de lazer e a presença de ações de caráter caritativo e que não possuíam continuidade. Os principais agentes de influência no contexto de desenvolvimento dos adolescentes eram suas famílias, a escola, o CRAS e em muitos casos a relação com a igreja evangélica. A presença do Projeto Social Sonhos Unidos se caracterizou como um processo proximal constituindo um novo microssistema no desenvolvimento dos adolescentes. O segundo estudo apontou que é imprescindível compreender o impacto que os estereótipos impostos pelo padrão eurocentrado exprimem na identidade do adolescente e são apontadas ainda algumas estratégias de enfretamento tais como intervenções de letramento racial no âmbito escolar, resgate da potencialidade do povo negro e fortalecimento da autoestima tanto no âmbito individual quanto coletivo que podem ser fatores protetivos ao desenvolvimento. O terceiro estudo apresentou os resultados do programa Ginga, que foi aplicado na cidade de Volta Redonda/RJ no ano de 2024 para dois públicos e contextos distintos: o primeiro grupo foram 16 adolescentes integrantes de um Projeto Social com idade entre 12 e 21 anos e o segundo grupo foram 63 estudantes do 8o ano do Colégio Getúlio Vargas da rede pública de ensino. Os resultados permitiram observar os impactos gerados na aquisição de conhecimento por parte dos participantes acerca da estrutura racista na qual o Brasil foi construído e ainda se perpetua; os privilégios da branquitude e os impactos na desigualdade racial e social; o conhecimento acerca de leis de combate ao racismo recreativo e de ações afirmativas; valorização da cultura afro-brasileira e de pessoas negras de referência na cidade de Volta Redonda. O Programa Ginga pode ser compreendido como um Programa que tem potencial para gerar proteção ao desenvolvimento de adolescentes e como uma importante ferramenta no apoio à diversidade étnico-racial e no combate ao racismo. O estudo apresenta ainda os resultados da pesquisa de Doutorado Sanduíche realizada no período de setembro a dezembro em Moçambique, produto da bolsa de estudos do edital Atlânticas do Programa

Beatriz Nascimento de mulheres na ciência/CNPq. Pesquisa realizada através do convênio entre a UFRRJ e Universidade Eduardo Mondlane